História de Cabo Verde

Marcos históricos de Cabo Verde

Cabo Verde da descoberta à independência

  • 1460: as ilhas de Cabo Verde foram descobertas por navegadores portugueses.
  • 1462: inicia-se o povoamento de Cabo Verde, sendo Santiago a primeira ilha a ser povoada.
  • 1869: abolição da escravatura em todos os territórios portugueses, incluindo Cabo Verde.
  • 1956, 19 de setembro: Amílcar Cabral co-funda o Partido Africano da Independência (PAI), posteriormente designado Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), lutando contra o colonialismo e iniciando o caminho para a independência.
  • 1962, março: início da luta armada na Guiné Bissau contra a ocupação portuguesa, com cabo-verdianos se juntando à luta.
  • 1973, 20 de janeiro: Amílcar Cabral é assassinado em Conacri por membros do PAIGC em alegada conspiração armada pelos serviços secretos portugueses.
  • 1974, 19 de dezembro: assinado um acordo entre o PAIGC e Portugal, instaurando-se um governo de transição em Cabo Verde.
  • 1975, 30 de junho: elegeu-se a Assembleia Nacional Popular (ANP), constituída por 56 deputados.

 

Cabo Verde no Pós-independência

  • 1975, 5 de julho: Cabo Verde torna-se um estado independente. A proclamação solene da Independência de Cabo Verde acontece a 5/07/1975.
  • 1975, 5 de julho: Aristides Pereira é eleito como primeiro Presidente da República e Pedro Pires como primeiro chefe de Governo do país, no regime então unipartidário. Aristides Pereira viria a ser reeleito presidente em 1981 e 1986.
  • 1977, 16 de março: Cabo Verde adere à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
  • 1980, 5 de setembro: aprovação da primeira Constituição da República de Cabo Verde
  • 1980, 14 de novembro: golpe militar na Guiné-Bissau, liderado pelo então primeiro-ministro João Bernardo Vieira. Cabo Verde abandona planos de unidade com a Guiné-Bissau.

  • 1981: o PAIGC é substituído pelo Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV), que se torna o único partido do país.

  • 1981: o PAIGC é substituído pelo Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV), que se torna o único partido do país.
  • 1990, 25 de janeiro: o Papa João Paulo II visitou Cabo Verde, iniciando na ilha do Sal e seguindo para as ilhas de Santiago e São Vicente, pela primeira vez na história do país.
  • 1990, 28 de setembro: revisão da Constituição e consagração da transição constitucional, determinando o fim do regime de partido único, e instituindo o princípio de separação e interdependência dos poderes.
  • 1991, 13 de janeiro: decorrem as primeiras eleições multipartidárias livres em Cabo Verde e o MpD liderado por Carlos Veiga venceu com cerca de 70% dos votos.
  • 1991, 17 de fevereiro: António Mascarenhas Monteiro, apoiado pelo MpD, vence e torna-se o primeiro Presidente da República de Cabo Verde eleito em eleições multipartidárias.
  • 1992, 4 de setembro: promulgada a nova Constituição da República, com mudanças significativas como a substituição de símbolos nacionais, a redução dos poderes do Presidente da República, e o princípio de separação e interdependência dos poderes legislativo, executivo e judicial. A nova Constituição da República entrou em vigor a 25 de Setembro do mesmo ano.
  • 1995, 2 de abril: erupção do vulcão do Fogo, com duração de cerca de um mês, destruindo centenas de casas e de culturas.
  • 1996, 18 de fevereiro: António Mascarenhas Monteiro é o único candidato e é reeleito presidente da república em votação não competitiva: apenas as opções “A Favor” e “Contra”. Nas eleições parlamentares do mesmo ano, vence o Movimento para a Democracia (MPD), que conquista a maioria dos lugares.
  • 1996, 17 de julho: criada a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a qual Cabo Verde integra.

 

Cabo Verde no Novo Milénio

  • 2001, 25 de fevereiro: Pedro Pires é eleito Presidente da República pelo Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV), abrindo caminho para o retorno do partido ao poder.
  • 2006, 22 de janeiro: o PAICV, liderado pelo primeiro-ministro José Maria das Neves, venceu as eleições legislativas.
  • 2006, 12 de fevereiro: Pedro Pires é reeleito Presidente da República em disputa contra Carlos Veiga do MPD.
  • 2007,18 de dezembro: o Conselho Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) aprova a adesão de Cabo Verde à organização.
  • 2007, 21 de dezembro: Cabo Verde deixa a lista dos Países menos Desenvolvidos após atender aos três critérios para elevação à categoria de País de Desenvolvimento Médio: PIB per capita; índice de desenvolvimento humano (IDH) e Índice de Vulnerabilidade Económica (IVE).
  • 2008, 1 de janeiro: Cabo Verde passa oficialmente a integrar a lista de Países de Desenvolvimento Médio, tornando-se apenas o segundo país na história a graduar-se da categoria de País Menos desenvolvido, após a Botswana em 1994.
  • 2008, 23 de julho: Cabo Verde tornou-se o 153º Estado membro da Organização Mundial do Comércio.
  • 2011, 6 de fevereiro: PAICV vence as eleições parlamentares e o líder do partido, José Maria Neves, consagra-se o Primeiro Ministro do país.
  • 2009: a Cidade Velha, antiga Ribeira Grande de Santiago e primeira de Cabo Verde, é reconhecida como Património Mundial da UNESCO.
  • 2011, 6 de fevereiro: PAICV vence as eleições parlamentares e o líder do partido, José Maria Neves, consagra-se o Primeiro Ministro do país.
  • 2011, 22 de agosto: Jorge Carlos Fonseca, do MpD, é eleito Presidente da República
  • 2011, 17 de dezembro: morre Cesária Évora, cantora cabo-verdiana de grande expoente. Declarados dois dias de luto em homenagem à rainha da morna cabo-verdiana.
  • 2013, 24 de outubro: Cabo Verde solicita à Organização das Nações Unidas que o seu nome não seja traduzido para “Cape Verde”, mantendo o nome oficial em português.
  • 2014, 23 de novembro: o vulcão do Fogo entra em erupção após 19 anos adormecido, provocando grande destruição material. A atividade vulcânica cessou a 8 de fevereiro, depois de ocorridos 77 dias de erupção, com a destruição das localidades de Portela, Bangaeira e Ilhéu de Losna.
  • 2016, 2 de outubro: Jorge Carlos Fonseca, do MPD, é reeleito Presidente da República
  • 2016, 20 de Março: Movimento para a Democracia (MpD) vence as eleições parlamentares, o líder Ulisses Correia e Silva torna-se Primeiro Ministro de Cabo Verde.
  • 2020, 28 de março: o presidente da república Jorge Carlos Fonseca declara estado de emergência em Cabo Verde devido à epidemia do coronavírus. 

  • 2021, 18 de abril: o MpD, liderado por Ulisses Correia e Silva, vence as eleições parlamentares e esse permanece como Primeiro Ministro.
  • 2021, 17 de outubro: José Maria Neves do PAICV é Presidente da República na primeira volta, com 51% dos votos.
 
 

História de Cabo Verde pelas Eras

O Descobrimento de Cabo Verde

A descoberta de Cabo Verde é objeto de discussão entre autores. Por muito tempo admitiu-se que o arquipélago havia sido descoberto pelo mercador genovês Luís Cadamosto. Contudo, investigações realizadas no século XIX demonstraram que Cadamosto não descobriu nenhuma das ilhas do arquipélago.

A conclusão que Cadamosto não descobriu Cabo Verde derivou das contradições e incoerências das suas narrativas. Por exemplo, o genovês relatou que na ilha de Santiago  “achou um rio de água doce – rio grande no qual podia entrar à vontade um navio de setenta e cinco toneladas; ao longo desse rio encontraram os seus homens pequenas lagoas de sal branquíssimo e belo (…)”. Entretanto, nem na ilha de Santiago e nem em qualquer outra ilha de Cabo Verde existe coleção de água com essas características.

Outras contradições da narrativa de Cadamosto podem ser lidas na obra Origens da Colónia de Cabo Verde, de Simão Barros.

Cabo Verde terá sido descoberto em 1460 pelo navegador português Diogo Gomes e pelo genovês António da Noli, enquanto a serviço do Infante Dom Henrique, também conhecido como Prince Henry, the navigator.

As ilhas de Sotavento terão sido as primeiras ilhas do arquipélago a serem descobertas. Santiago, Maio e Fogo foram descobertos no dia 1 de Maio de 1460. Boavista seria descoberta a 3 de maio do mesmo ano. 

A data exata do descobrimento das outras ilhas não é conhecida ao certo, mas acredita-se que tenha sido entre maio de 1460 e 1462, já que na carta de doação passada por Dom Afonso V em 19 de setembro de 1462, em Portugal, já menciona todas as ilhas.

 

Cabo Verde e as questões pré-descobrimento

Outra questão de debate histórico refere-se à saber se as ilhas já eram habitadas quando descobertas pelos navegadores.

Alguns historiadores defendem que Cabo Verde teria sido ocupado pelos bérberes mauritanos antes da chegada dos portugueses. Essa teoria baseia-se no fato de terem sido encontradas nas ilhas de Santo Antão e São Nicolau desenhos e inscrições rupestres que representam caracteres de escrita rúnica ou fenícia, para uns, e bérberes para outros. 

Os que sustentam que os portugueses teriam sido os primeiros a pisar em Cabo Verde argumentam que a pobreza animal e vegetal do arquipélago não permitiria ao homem sobreviver, o que só se tornou possível após a introdução de plantas e animais nas ilhas. 

Pelo exposto, conclui-se que as ilhas de Cabo Verde eram desabitadas quando descobertas mas, já tinham sido visitadas anteriormente pelos berberes mauritanos pelo menos. Esses, entretanto, não se fixaram. 

 

O Povoamento de Cabo Verde

Como as ilhas de Cabo Verde não eram habitadas quando foram descobertas pelos navegadores portugueses, foi necessário povoá-las. O povoamento de Cabo Verde pode ser caracterizado, de acordo com o ritmo e a importância, em cinco períodos distintos

 

  • Primeiro período do povoamento de Cabo Verde

Decorreu de 1461, chegada dos primeiros povoadores, até 1495, ano em que as ilhas voltaram para a coroa. 

Após o descobrimento, Dom Afonso V doou as ilhas ao Infante Dom Fernando, que logo iniciou o processo de colonização. Dom Fernando mandou o genovês António da Noli, um dos descobridores, como capitão–donatário para a ilha de Santiago. Esse tinha na sua companhia alguns criados de D. Fernando e alguns casais de Algarves, que terão constituído os primeiros povoadores de Cabo Verde. 

Devido a aridez do solo e do clima, António da Noli decidiu trazer negros escravisados do continente africano para se dedicarem à agricultura. Da Serra Leoa e da Guiné Bissau foram trazidos casais de jalofos, felupes, papéis e balantas, que originaram os primeiros negros cabo-verdianos.

Entretanto, as características das ilhas não atraíam muito os colonos portugueses, o que dificultou a tarefa de António da Noli. Para atrair colonos ao arquipélago, D. Afonso V, em 1466, concedeu a todos os que se estabelecessem em Cabo Verde o comércio exclusivo e resgate de escravos da Guiné. 

A estratégia de D. Afonso V surtiu efeito. Uma corrente migratória em busca de fortuna rumou a Cabo Verde. Como consequência, estabeleceu-se entre o porto de Ribeira Grande e África o transporte de mercadoria e de negros escravisados. Assim ocorreu o primeiro povoamento estável em Ribeira Grande.

Com a morte de Dom Fernando, as ilhas passaram para o irmão D. Manuel. Esse dividiu a ilha de Santiago em duas capitanias. A capitania do norte foi doada a Diogo Afonso e começou a desenvolver-se em torno da povoação de Alcatraz (Praia Baixo). A do sul, onde se situa a Ribeira Grande, foi doada a Jorge Correia. A colonização continuou a bom ritmo, tendo-se introduzido então alguns animais domésticos, cana de açúcar, algodão e árvores frutíferas.

No fim do século XV teve início o povoamento da ilha do Fogo, com criados do Infante D. Fernando e negros de Santiago. A população das ilhas começou a aumentar rapidamente. 

As ilhas do Maio e Boavista, nesse período, não foram concedidas a donatários para povoamento. Ao invés disso, foram destinadas à criação de animais domésticos. Essa atividade viria a se tornar uma das maiores fontes de rendimento da colónia. 

No primeiro período, a coroa portuguesa pouco intervém no processo de colonização.

 

  • Segundo período do povoamento de Cabo Verde

Decorreu de 1495, ano em que as ilhas voltaram para a coroa, até à usurpação filipina, em 1580.  

No segundo período, como retorno das ilhas voltaram à coroa portuguesa,  iniciou-se o sistema de arrendamento dos direitos no arquipélago, com concessão de grandes poderes aos arrendatários. 

Teve início uma nova fase de desenvolvimento económico, social, e populacional das Ilhas.  Houve um aumento considerável da população. Os arrendatários atraíram o comércio estrangeiro. Ribeira Grande tornou-se um centro comercial importante e populoso. A prosperidade e a riqueza da Ribeira Grande começou a despertar com a cobiça dos estrangeiros o que viria a resultar posteriormente em saqueadas à povoação.

Por outro lado, a capitania do norte – a povoação de Alcatraz, começou a entrar em decadência, tendo sido suprimida em 1505. Isso resultou no desenvolvimento rápido da povoação do porto de Praia de Santa Maria, a atual capital. 

Com a chegada do século XV, a coroa começou a preocupar-se com o povoamento das outras ilhas. Para atrair povoadores às ilhas então inabitadas, os monarcas concederam as mesmas regalias que tinham os habitantes de Santiago e Fogo a quem as fosse habitar. Ou seja, esses gozavam dos mesmos benefícios comerciais na Guiné. 

A ilha de São Nicolau foi doada aos condes de Portalegre, que ali introduziram muitos escravos. 

As ilhas do Maio e Boavista, importantes pelo seu papel na criação de gado, passaram a exigir gente que cuidasse dos animais. Nessa altura,  a produção de manteiga e da carne salgada (chacina) e a produção de couro tiveram grande desenvolvimento. 

Aparecem nesse período os primeiros mestiços, resultante dos colonos com as negras trazidas do continente africano.

À semelhança do período anterior, o povoamento durante o segundo período limitou-se às áreas litorâneas. Esboçava-se, entretanto, uma tentativa de centralização. Até então, cada ilha representava uma capitania. A partir de 1530, o arquipélago passou a ser governado por capitães-mores residentes em Santiago. 

 

  • Terceiro período do povoamento de Cabo Verde

Decorreu de 1580 à Restauração.

A colónia passou a viver em constante estado de inquietação em decorrência da falta de segurança. Ribeira Grande sofreu vários saques, os mais importantes foram os dos ingleses, em 1582 e 1595.  

Os ataques ocorriam também em alto mar, o que prejudicou grandemente o comércio nos territórios da Guiné, que eram o principal atrativo para os colonos. Para protegerem seus bens, muitos retornaram à Portugal. A colonização branca diminui consideravelmente.

Por outro lado, os ataques piratas contribuíram para o povoamento do interior da ilha de Santiago. Os negros que ainda viviam no llitoral, sob a ameaça dos ataques piratas, fugiram para o interior, econdendo-se nas montanhas até que o retorno às suas moradias antigas fosse seguro.

Apesar dos saques piratas, a Ribeira Grande continuava a crescer. 

Em 1596 a ilha de Santo Antão é doada ao Conde de Santa Cruz. Teve início então o povoamento regular de Santo Antão, com a introdução de grande número de escravos. 

Para as ilhas do Maio e da Boavista, que não eram vistas como ilhas agrícolas, foram enviados pastores e caçadores para trabalharem com o gado. 

Em 1592, o arquipélago de Cabo Verde passou a constituir um governo geral.

 

  • Quarto período do povoamento de Cabo Verde

Teve lugar de 1640 à passagem da capital do arquipélago para a cidade da Praia, em 1769. 

As ilhas vivem um período de paz. Dom João IV manda edificar fortes e muni-las a fim de impedir novos ataques piratas. 

Novas tentativas da coroa de recapturar a emigração para as ilhas fracassaram. Os colonos preferiam o Brasil. Como alternativa, enviaram os “degredados” para suprir a colonização branca. A importação de negros escravisados continuou, mas com menor intensidade. 

A Ribeira Grande começou a entrar em decadência. Muitos habitantes haviam abandonado a povoação. O comércio dirigiu-se para a vila da Praia. A ideia de mudar a capital para a Praia, que havia surgido nos finais do século XVI, começou a concretizar-se.

Em 6 de fevereiro de 1652, D. João IV decretou uma de medidas para acelerar o processo de mudança de capital. Destaca-se entre elas: fortificação da vila; que nela morassem o bispo o governador; reedificação das casas decaídas; centralização do despacho de cargas no porto da Praia, etc. 

O êxodo de Ribeira Grande acentua a sua decadência. Em 1712, corsários franceses sob o comando de Jacques Cassard saquearam boa parte de sua riqueza.  Em 1763, uma grande inundação matou muitas pessoas e destruiu grande parte das habitações e edifícios. Os navios que antes ali atracavam, deixaram de frequentar o porto.

Não obstante, a transferência da capital de Ribeira Grande para Santiago só viria a ocorrer em 1770, depois de o Marquês de Pombal decretar a mudança. Nesse ano, a população de Cabo Verde era estimada em 80.000 habitantes.

Em 1732, as povoações de Ribeira da Brava, em São Nicolau, e Ribeira Grande, em Santo Antão, foram elevadas à categoria de vilas, com constituição de câmaras e outras autoridades. 

 

  • Quinto período do povoamento de Cabo Verde

Decorreu a partir de 1769. 

A mudança da capital instilou uma nova dinâmica no arquipélago. As outras ilhas passaram a ser alvo de cuidados também.

Em 1781 ordenou-se o povoamento das ilhas inabitadas com habitantes das outras ilhas. Na tentativa de povoar São Vicente, o governo determinou em 1795 que se deslocassem 20 casais do Fogo para São Vicente com o objetivo de iniciar o povoamento desta ilha. Formou-se na costa ocidental da ilha uma pequena povoação, que viria a originar posteriormente a cidade do Mindelo. 

Em 1801 teve início o povoamento de Santa Luzia, com o envio de colonos e um padre à ilha. Entretanto, as condições climáticas adversas da ilha não propiciaram o povoamento e os colonos acabaram por abandonar a ilha.

Na ilha do Sal, o povoamento iniciou em torno do Portinho, atual porto de Santa Maria. Outros povoados foram surgindo pelo interior da ilha, dando origem a Pedra de Lume e Palmeira.

Em 1858 a então vila da Praia foi elevada à categoria de cidade. 

A colonização branca continuou a basear-se nos “degredados” que eram enviados às ilhas para cumprir pena. A emigração negra continuou em ritmo mais lento, e só veio a parar após a extinção do tráfico de escravos. 

 

Cabo Verde sob o regime colonial português

O arquipélago de Cabo Verde permaneceu sob o regime colonial português por cerca de 500 anos, de 1462 quando se iniciou o povoamento das ilhas até à independência, em 1975. 

A exploração econômica foi um dos pilares da dominação colonial portuguesa em Cabo Verde. As ilhas eram utilizadas como entreposto comercial de escravos africanos, que eram transportados para as Américas para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar. 

O arquipélago enfrentou muitos desafios sob o regime colonial. Dentre eles as várias secas, causadoras de mortandades da ordem das dezenas de milhares de habitantes. Destacam-se a seca de 1770 que dizimou cerca de 32.000 habitantes e a de 1831, que levou a óbito aproximadamente 30.000 habitantes. 

De igual modo, as epidemias não poupavam as populações, das quais a de cólera, em 1856, que dizimou aldeias inteiras em São Nicolau e não poupou outras ilhas. 

A segunda metade do século XIX foi particularmente desafiante. A década de 1840 viu o declínio acentuado do comércio transatlântico de escravos. O fim do comércio de escravos fez com que o arquipélago perdesse a sua importância estratégica para a metrópole. 

Portugal deixou de fornecer suprimentos e materiais suficientes aos habitantes de Cabo Verde. A incapacidade das ilhas de produzir alimentos suficientes para sua população, aliada à falta de infraestrutura sanitária e de acesso a cuidados médicos adequados contribuiu para as altas taxas de mortalidade devido a doenças infecciosas e secas.

O jugo colonial e as consequentes desigualdades sociais deram origem a várias revoltas, das quais se destaca a Revolta dos Engenhos (1822), a Revolta de Achada Falcão (1841) e a Revolta de Ribeirão Manuel (1910).

Apesar das dificuldades, a população do arquipélago continuou a crescer, a tal ponto que o crescimento demográfico não mais carecia da introdução de imigrantes. O movimento migratório inverteria o fluxo. Ou seja, os cabo-verdianos que passaram a emigrar para outras paragens, à procura de melhores condições. A emigração em baleeiros americanos no século XIX constitui um dos principais movimentos migratórios da história das ilhas.

O cariz aventureiro do cabo-verdiano é latente na população até hoje, em parte decorrente das limitações existentes no arquipélago. 

 

Cabo Verde na luta pela independência 

Durante o período colonial, os cabo-verdianos enfrentaram várias dificuldades, incluindo a escravização de muitos de seus cidadãos e a opressão política e económica por parte das autoridades portuguesas. As dificuldades do povoamento, as revoltas contra o domínio colonial e o fortalecimento de uma identidade cabo-verdiana propiciaram o surgimento do movimento nacionalista de libertação. 

A independência de Cabo Verde, entretanto, não viria a ser imediata. Antes, foi um processo gradual que envolveu a luta pela libertação política e a afirmação da identidade nacional.

Um marco importante no processo de independência de Cabo Verde foi a criação do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em 1956 por Amílcar Cabral, filho de cabo-verdianos residente na Guiné Bissau. O objetivo do partido era unificar as colónias portuguesas da Guiné e Cabo Verde e lutar pela independência de ambas. Cabral defendia que isso permitiria a Cabo Verde lutar por sua própria independência e impediria que a colónia permanecesse sob o controle português. 

A estratégia inicial do partido foi pedir a retirada pacífica das tropas portuguesas da colónia de Guiné. Como esta via pacífica não teve sucesso, o PAIGC viria a mudar de tática, passando a utilizar medidas mais violentas para conseguir independência. A luta armada contra a ocupação portuguesa começou em março de 1962, quando o PAIGC lançou a sua primeira campanha de guerrilha na Guiné-Bissau. 

Nos anos seguintes, a luta pela independência se intensificou, com o PAIGC aumentando sua presença em Cabo Verde e a mobilização do povo com vista aos ideais de liberdade. Entretanto, em nenhum momento ocorreu luta armada em Cabo Verde. Alguns estudiosos defendem que a ausência de conflitos armados em Cabo Verde contribuiu para o sucesso posterior do país em estabelecer um regime democrático.

A 13 de janeiro de 1973, Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri. Apesar da sua morte, os ideais de luta e independência permaneceram. A independência da Guiné viria a ser declarada unilateralmente em 24 de setembro de 1973. 

Em 1974, a Revolução dos Cravos em Portugal abriu caminho para a independência das ilhas. As reivindicações do partido para a independência e a agitação generalizada forçaram o governo português, até então relutante, a negociar os termos da independência de Cabo Verde. A 19 de Dezembro de 1974 foi assinado um acordo entre o PAIGC e Portugal, instaurando-se um governo de transição em Cabo Verde. 

O governo de transição preparou as eleições para uma Assembleia Nacional Popular que em 5 de julho de 1975 proclamou oficialmente a independência de Cabo Verde. Aristides Pereira é eleito como primeiro Presidente da República e Pedro Pires como primeiro chefe de Governo do país, no regime então unipartidário. 

 

Cabo Verde após a independência 

Após a independência, Cabo Verde realizou eleições nacionais que elegeram uma assembleia nacional em 30 de junho de 1975. Devido à sua posição geográfica como um estado insular no meio do Oceano Atlântico, a assembléia nacional declarou o país neutro na Guerra Fria. Cabo Verde manteve boas relações tanto com os EUA quanto com a União Soviética durante todo o período da Guerra Fria, evitando qualquer presença militar estrangeira como afirmação da sua neutralidade.

Com o golpe de estado na Guiné Bissau em 1980, Cabo Verde abandonou planos de unidade com a Guiné-Bissau. O PAIGC é substituído pelo Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV), que se tornou então o único partido cabo-verdiano. 

As eleições parlamentares continuaram e, Aristides Pereira foi reeleito Presidente da República em 1981 e 1986. Após essas últimas eleições, a pressão aumentou a favor de eleições multipartidárias.

Em janeiro de 1991, foram realizadas as primeiras eleições parlamentares multipartidárias em Cabo Verde. O Movimento para a Democracia (MpD), constituído em parte por dissidentes do PAICV, venceu as eleições e obteve maioria no parlamento. Carlos Veiga foi eleito primeiro-ministro pelo parlamento e, mais tarde naquele ano, o candidato apoiado pelo MpD, António Mascarenhas Monteiro, venceu as eleições presidenciais. Desde então, têm decorrido eleições multipartidárias, com transferência pacífica de poder. 

Em termos de política externa, Cabo Verde tem mantido relações amistosas com uma série de países, incluindo Portugal, Brasil, Estados Unidos e vários países africanos. O país também tem sido um defensor ativo da integração regional na África Ocidental e tem trabalhado em estreita colaboração com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

A independência não foi a solução para todos os problemas de Cabo Verde. O país enfrenta muitos desafios, incluindo uma escassez de recursos naturais, um clima árido e uma economia ainda dependente da ajuda externa. Entretanto, a estabilidade política do país, ajudou a criar um ambiente propício para o desenvolvimento económico. A partir dos anos 90, Cabo Verde começou a experimentar um crescimento econômico constante, impulsionado pelo turismo e pela indústria de serviços.

Em suma, desde sua independência em 1975, Cabo Verde tem percorrido um longo caminho, apesar dos desafios. De um pequeno arquipélago no meio do Oceano Atlântico, o país se transformou em uma democracia estável e em um exemplo de sucesso económico na África. Cabo Verde continua a enfrentar desafios, é verdade, mas a sua história de sucesso é um testemunho do potencial humano e da resiliência do povo cabo-verdiano.